terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Crepúsculo de Curitiba

Oh Terra vermelha! Quanto do teu rubor é sangue da nossa gente.
Fernando Pessoa

À começar pelo autor, que sempre negou a fama ou reconhecimento, atitude muito mais vapirística do que nos últimos vampirinhos (Crepúsculo, True Blood ou The Vapire Diaries), acredito, temos uma imagem bem mais interessante do que viria a ser um vampiro. Ou pelo menos, O vampiro de Curitiba.

A obra, escrita em forma de contos - leves, românticos, eróticos, existenciais, inteligentes e recheado de humor - às vezes negro – quer ser novela. É interessantíssimo e muito sagaz a forma estrutural que o livro segue. Seus contos são suficientemente independentes, a ponto de serem lidos como contos, ao mesmo tempo que compõem uma longa trajetória do vampiro Nelsinho.

Nada de lobos, magia, Edward, lua cheia, pele com glitter, blá blá blá. O vampiro de Curitiba é real. Dalton Trevisan, em 1965, nos leva a uma viagem literária que ilustra a vida do jovem Nelson a assediar velhinhas, senhoras respeitáveis, virgens e prostitutas, agoniado e indeciso entre aquela que molha o lábio com a ponta da língua para ficar mais excitante, a viúva toda de preto com joelho redondinho de curva mais doce que o pêssego maduro, a “casadinha” que vai às compras e a normalista, como o portal passeiweb.com exemplifica.

Essencialmente, Dalton criou um vampiro muito mais próximo do papel que um vampiro foi criado para ter. Tudo bem, Edward vende mais, entretanto, isso não me incomoda, afinal, eu não espero encontrar um Edward tampouco um Jabob por aí, mas ainda creio que vou topar com meu Nelson um dia destes – morar em Curitiba, eu já moro.

por Rafael Swiech