sábado, 26 de março de 2011

O rei da Vela, O rei do Brasil

Brasil Colonial, 1500.
Brasil Imperial, 1822.
Brasil Independente, 1889.

Em 1933, Oswald de Andrade escreve a peça O Rei da Vela. Apelativa (nos estereótipos), Oswald apresenta um Brasil politicamente bagunçado, corrompido e, contudo, sabido disso, ainda que não consciente.

Do ponto de vista de uma família, o autor demonstra toda a má organização e defeituosa estrutura do Estado. Abelardo I é um novo rico que quer casar com uma família – sim, com uma família – a fim de conquistar um brasão, estamos em 33, pós-crise monetária mundial, momento de mudança na economia e estrutura das classes sociais, justificando o interesse no nome.

Que nome? Família ruída. Fortes caricaturas, exagero na corrupção escandalosa e sexual. Falta de pudor. Essa é a família com que Abelardo I quer, ou precisa, ou acha que precisa se casar. Essa é a família modelo brasileira. Vendida. Muito interessante seria para eles também esta união, ex-barões do café que agora mais valia quando queimado.

Rei da Vela, pois cada brasileiro que morre lhe enche os bolsos, pelo menos uma vela por morto, por mais pobre que seja. Viva a exploração! Viva o Brasil. A vela também representa o ordinário que não consegue sequer energia elétrica, usinas fechadas. Há ainda a agiotagem de Abelardo, cada pobre imigrante – ou não – tem seu próprio pavio queimando, metaforicamente falando, até acertar as contas com o credor.

A grande sacada, porém, é a demonstração da descrença pela nação, historicamente desvirtuada. “Nós dois sabemos que milhares de trabalhadores lutam de sol a sol para nos dar farra e conforto. Com enxada nas mãos calosas e sujas. [...] É assim a sociedade em que vivemos. O regimen capitalista que Deus guarde...” diz Abelardo I à noiva. Sim, qual o problema afinal? Ele também sabe que o Brasil deve contas ao exterior. É assim que a banda toca e ponto final. Mas há o socialismo: falso e oco do brasileiro. Abelardo II, propositalmente homônimo, é o socialista, que se torna Abelardo I na primeira oportunidade que tem, constatando: Abelardos não faltam. É o Brasil do interesse. Um deboche de um país com grande potencial e que se perdeu na própria história. Falávamos de 1933. Hoje é 2011 e nada de ter se encontrado.

Brasil imutável, 0000

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R. Swiech

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