sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O Herói de Basílio

Há algum herói nesta obra?


Antes de encontrar um herói em O Uraguai, de Basílio da Gama, encontra-se a vítima. Mais do que tudo, a posição do índio é a de vítima, o que, não implica em ausentá-lo também da chance de ser o herói da tendenciosa epopéia brasileira.
No primeiro canto, Catâneo, o comandante, descreve os motivos históricos da guerra a ser travada e, posteriormente vencida. Narrando, inclusive fatos passados não bem sucedidos devido ao clima, formação do solo e enchentes do rio Uraguai, deixa claro a má influência dos jesuítas, que nunca declamaram contra o cativeiro destes miseráveis racionais [os índios], senão porque pretendiam ser só eles os seus senhores, segundo a notas explicativas do próprio autor, já os colocando como vilões da história e contra a Coroa.
O desfile das tropas, ainda nesse canto, também enaltece o europeu, que veio em missão real, trazer a ordem ao que fora independentemente dominado pelos jesuítas que não obedeciam ordens e tratados reais.
O índio, por outro lado, lutou valentemente contra os portugueses a fim de sua causa, que nada mais era do que o propósito jesuíta, já que estes os influenciaram a tal ato, os eximindo, de certa forma, da culpa de estarem contra as tropas européias.
Dada as circunstâncias, em certo ponto da narrativa, o índio Cacambo incendeia o acampamento europeu, mas mesmo tendo-o feito, o poderoso jesuíta Balda o aprisiona e o mata, para deixar sua bela índia Lindóia noiva de seu filho Baldeta. Lindóia deixa-se então morrer picada por uma cobra para impedir a concretização do plano de Balda. Heroísmo não é o que falta ao índio neste momento.
Todavia, com o vilão, a Companhia de Jesus, tendo perdido a batalha, uma vez que os pobres índios não puderam contra o armamento europeu, o europeu é dado como herói a fazer valer a verdade real na colônia e também justiçando o índio, que agora passa a reverenciar a Coroa.

Assim, pode-se interpretar o índio como herói, ou pode-se interpretar o europeu pelo herói, ou ainda, pode-se também defender que o poema deixa de ser a celebração de um herói para tomar-se o estudo de uma situação: o drama do choque de culturas e influências sobre o índio!, mas talvez, o grande herói de Basílio, provavelmente, foi um europeu em especial, Marquês de Pombal, cujo heroísmo lhe é dado por reconstruir Portugal após o terremoto de 1755, ir contra as missões religiosas ganhando aliados como França e Espanha, dentre outras coisas, bem como por ganhar a simpatia do autor, que, ao que se sabe, estava cansado de ser perseguido devido sua antiga educação jesuíta.
por Rafael Swiech

Nenhum comentário:

Postar um comentário